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A Psicanálise e suas clínicas

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Fabrício Neves*

Quando se fala em psicanálise, surge no imaginário de cada um ideias, geralmente associadas a uma prática, um certo cenário e algumas concepções difundidas por nossa cultura. Não é propósito destas notas, considerando as limitações deste tipo de escrita, discorrer sobre os mitos disseminados, inclusive por muitos que a praticam, sobre o que é ou não psicanálise.

De todo modo, quando circulamos em nossos meios sociais, escutamos com frequência pré-concepções sobre nosso fazer. A maioria destas construções revela que muita gente não chega aos consultórios por uma noção muito equivocada sobre o trabalho analítico, às vezes, até baseadas na experiência de um conhecido que empreendeu uma experiência analítica.

A confusão se dá porque se tira de um relato particular, de uma experiência única e individual, uma regra geral. Aliás, encontramos no discurso de muitos colegas método semelhante. E aí começam os problemas!

Parece muito difícil em um tempo onde tudo se generaliza, apreender que a prática psicanalítica está baseada no caso clínico em questão. Que trabalhamos com modelos para pensar e não para aplicar.

Desde sua origem com Freud e seus contemporâneos, até os dias atuais a psicanálise revê sua prática a partir dos problemas que a clínica lhe propõe. Assim os pacientes e suas configurações, fazem o analista trabalhar no sentido de criar as condições necessárias e técnicas: frequência, manejos, valores e quantos outros arranjos se fizerem pertinentes para que o método psicanalítico possa se dar.

As mudanças na prática dos psicanalistas não devem ser creditadas exclusivamente pela demanda de quem nos procura. Green, em seu artigo sobre ‘o analista, a simbolização e a ausência no enquadre analítico’ trabalhou com a hipótese de que essas mudanças estão subordinadas às mudanças de sensibilidade e percepção do analista. Fazendo um paralelo onde, assim como a visão do mundo exterior do paciente depende de sua realidade psíquica, também nossa visão da realidade psíquica do paciente depende de nossa própria realidade psíquica.

Essa complexidade não deveria ser ignorada por aqueles que se detém em pensar sobre o nosso ofício nos dias de hoje. Estamos nos aproximando de nosso I Simpósio Bienal onde nos convidam para o pensar em dois eixos – do analista desconcertado e o da psicanálise e suas clínicas. A relação entre esses eixos me parece indissolúvel. Não parece possível revendo tudo que escreveram e nos contaram nossos colegas de ontem e de hoje, que possa haver clínica psicanalítica onde não esteja presente o mal-estar do analista, sempre desconcertado pelo que está por vir…

* Fabricio Neves é psicanalista membro associado da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo

Imagem: reprodução da obra Relativity de M.C. Escher

 

 

 

 



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