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Palavras da Diretoria

É com grande orgulho e satisfação que escrevo esta mensagem, marcando o ingresso na função de  Diretora do Instituto da SBPSP, satisfação que estendo a todos os colegas que participarão desta gestão.

Agradeço a todos que me antecederam, em especial a Bernardo Tanis e Vera Regina Fonseca, e aos que me sucederam e sucederão: convido a todos para continuar nossa jornada dentro do campo psicanalítico institucional.

Estamos diante de um momento paradoxal: comemorando a saúde dos que resistiram à pandemia e às crises de todas as ordens, e lamentando a perda de tantos cidadãos e  queridos amigos que se foram …e, sobretudo, nos deparamos com uma realidade onde a subjetividade atravessa tempos sombrios; o mal-estar, que sempre muda de lugar, hoje nos convoca a resistir ao fantasma do outro enquanto inimigo, à alienação diante do sofrimento psíquico, privado ou compartilhado, à obrigatoriedade compulsória de se mostrar feliz em imagens compartilhadas que têm pouco densidade.

A Psicanálise tem como uma de suas éticas a ideia de um mundo não plano, não de fachada, repleto de passagens, movimentos e surpresas. O reconhecimento deste mundo complexo, dentro e fora de nós, nos convida a enfrentarmos nosso sofrimento psíquico, a intimidade e o amor, que acontece nos encontros que construimos. E nos estimula, sobretudo, a transformar nosso sofrimento em resistência diante de realidades muitas vezes atrozes, como tem se passado então.

Nosso desejo é que a passagem pelo Instituto problematize a complexidade do mundo, nos forneça ferramentas para transformá-lo e compartilhá-lo, na clínica e na vida.

Sabemos que a opção pela formação em psicanálise passa, além do talento e vocação, pelo desejo de encaminhar o sofrimento psíquico e abrir novos espaços de subjetividade, o que é favorecido pela escuta e pelo encontro ético com um analista. A crise da intimidade, que hoje nos assola, pode ser um convite para sua transformação. Este analista também é forjado da mesma matéria de seus pacientes, e sua implicação é fundamental para que aconteça o encontro analítico.

A formação ativa e cuidadosa tem como tarefa despertar esse sentido humano, ético, desejante e complexo,  favorecendo  autonomia e desalienação.

Mesmo ancorado numa longa tradição, que tem como guia o  famoso tripé – análise pessoal, seminários teóricos e seminários clínicos, cabe ao Instituto funcionar como uma caixa de ressonância, imersa na cultura e no seu tempo, e ciente da complexidade do mundo interno, este ilustre desconhecido… Nos situamos, sem dúvida, dentro de um ritual ético de ligação com o passado, que se faz presente, mas presente sempre fugidio, que depende de outros narradores que seguirão a jornada.

Apostamos numa formação que compreenda, além da tradição, tão importante, o trânsito entre as gerações, estilos, culturas, espaços. E que propicie um clima institucional que faça sentido para seus participantes, distante da burocracia e dos meros controles.

Para que essa tarefa seja possível, a Diretoria do Instituto tem como desafio se apresentar como um espaço de trocas, diálogos, histórias, acolhendo a pluralidade das ideias, o convívio entre as diversas correntes que pensam a Psicanálise, com muito prazer e bom humor, animando a palavra viva, matéria-prima de nosso ofício.

Ousar pensar devagar, divagar, com tempo, incluindo desvios, fora da linha reta … deixar-se conduzir pelo sonho, pela fantasia, como num jogo, num brincar,  um contraponto à vida moderna, sem delay, que deixa como resto a sensação de que nunca se sai do lugar, não se formam as tais das experiências emocionais, que  conferem graça e prazer a nossas vidas.

 

Dora Tognolli