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Homenagem a Antonino Ferro no dia do seu aniversário

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Antonino Ferro nasceu no dia 2 de março de 1947, em Palermo, na Itália, e hoje completa 77 anos. Médico, psiquiatra e psicanalista de crianças, adolescentes e adultos, é analista didata e supervisor na Società Psicoanalitica Italiana (SPI), da qual foi presidente (2013-2017), e membro da American Psychoanalytic Association (APsaA) e da International Psychoanalytical Association (IPA). Autor de vários livros e inúmeros artigos sobre clínica, técnica e teoria da técnica publicados em revistas de psicanálise na Itália e em outros países, é um analista internacionalmente conhecido, com profundas contribuições em relação ao trabalho analítico e ao encontro analista/paciente.

Ferro parte da premissa bioniana de que o sofrimento psíquico deriva de um excesso provocado por uma insuficiência na relação continente-conteúdo que determina a persistência de mais estímulos sensoriais e proto-emocionais do que o indivíduo possa digerir.

Segundo ele mesmo afirma, “uma das maiores dificuldades da nossa espécie é a gestão do proto-emocional e do proto-sensorial. Isto é, somos constantemente “invadidos” por todo tipo de estimulação interna e externa e dispomos de aparatos e instrumentos apenas relativamente capazes de transformar as proto-emoções e a proto-sensorialidade em pensar, sentir, sonhar.”

Dessa forma, a tarefa da mente é a de operar uma transformação elaborativa em direção ao pensamento, mas, segundo Ferro, o problema da espécie Homo sapiens é o de ter uma mente que necessita de cuidados para se desenvolver de forma harmônica e cujas falências do desenvolvimento levam a uma série de patologias.

Para que esse desenvolvimento possa acontecer no encontro analista/paciente, o mais importante não é que o analista busque uma verdade para comunicar ao paciente ou uma profundidade de interpretação, mas que esteja em uníssono com ele. Nesse sentido, a interpretação pode ser vista como um ato de apreensão metafórica do processo de constituição de experiências emocionais e da possibilidade de pensar essas experiências. Na base de suas concepções está presente o modelo do sonho, particularmente o sonho em estado de vigília.

Nesse sentido, as narrações do paciente não devem ser interpretadas ou, menos ainda, decodificadas, como se operássemos uma espécie de tradução simultânea: cabe ao analista ver como, aos poucos, as narrações do paciente podem ser transformadas para poderem se tornar instrumentos do desenvolvimento da sua capacidade de pensar.

Ferro nos lembra que, ao lado da função a e da sua capacidade de transformar elementos b (não pensados) em elementos a (possíveis de serem pensados) e, portanto, levar ao pensamento onírico da vigília e aos pensamentos, Bion postula a necessidade da existência de um “aparelho para pensar os pensamentos”, inadequado na espécie humana, mas necessário para tratar, organizar, usar os pensamentos, uma vez que tenham sido produzidos. Sem esse aparelho, os pensamentos são evacuados como se fossem elementos b.

O “aparelho para pensar os pensamentos” é constituído pelas oscilações PS<–>D (posição esquizoparanóide/posição depressiva) e por aquelas de ♀♂ (continente/conteúdo). Nesse sentido, poderíamos dizer que o fim último de uma análise é o desenvolvimento suficiente desse aparelho para pensar os pensamentos.

Portanto, muito mais do que dos conteúdos, Ferro se ocupa do continente, isto é, da reparação/desenvolvimento dos instrumentos que permitem o desenvolvimento dos conteúdos; e, então, coloca-se como fator de central importância o tipo de escuta do analista.

Dessa forma, o objetivo de uma análise muda radicalmente: não é mais trazer à tona o inconsciente, mas desenvolver os instrumentos que permitem a expansão da capacidade de pensar do paciente. E assim, o conceito clássico de interpretação frequentemente cede lugar a intervenções do analista que ativam transformações no campo, transformações que podem até derivar de intervenções mínimas de tipo enzimático. É claro que as interpretações de transferência naturalmente permanecem entre as possibilidades de intervenção das quais o analista pode dispor quando lhe parecer mais útil.

Entretanto, a modulação da atividade interpretativa é uma das consequências mais significativas dessa abordagem: Ferro destaca a importância que uma interpretação traga desenvolvimento e não seja fator de perseguição e, nesse sentido, é fundamental levar em conta a capacidade de escuta do paciente. O analista, portanto, se coloca como alguém capaz de ouvir, compreender, captar e descrever as emoções presentes no campo e isso acontece em uma ótica na qual não há um inconsciente a desvendar, e sim uma capacidade de pensar a ser desenvolvida.

Segundo Ferro, a operação de “desconstrução narrativa” é uma das operações principais de que a mente do analista pode lançar mão ao ativar os processos transformadores.

Para Ferro, a capacidade do analista para sonhar as comunicações que lhe são feitas é de fundamental importância (inclusive em situações de supervisão). Esta capacidade tem a ver com a “capacidade negativa” do analista (ficar no não saber sem persecutoriedade) e com sua capacidade de rêverie.

Ferro propõe o conceito de “transformações em sonho” no qual o analista antepõe a qualquer comunicação do paciente uma espécie de “filtro mágico” constituído pelas palavras “tive um sonho no qual…” que representa o ponto máximo do campo: o campo sonha!

E desta forma abrem-se vias de compreensão e de gestão da comunicação analista/paciente muito mais amplas e, em alguns casos, até imprevisíveis!

Marta Petricciani é membro efetivo e analista didata da SBPSP e membro da IPA.

Imagem: Shutterstock 

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.    



Comentários

One reply on “Homenagem a Antonino Ferro no dia do seu aniversário”

Elsa Susemihl disse:

Ótimo texto, Marta, apontando essas importantíssimas contribuições de Ferro! abs

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