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Desautorização e suborno da intimidade entre Jacobo e Martha

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Whisky é um filme uruguaio de 2004, dos diretores Juan Pablo Rebella e Pablo Stoll.

Whisky é o segundo filme deles.

Com este longa-metragem conquistaram inúmeros prêmios internacionais.

Em entrevista ao jornal francês Le MondePablo Stoll, disse que “o importante é o coração, o sentimento, a ideia, e não o virtuosismo técnico”. 

A câmera fica parada o tempo todo, fixa em um tripé, sem sequer um zoom in ou out durante os seus 100 minutos. Não importa se a diferença de altura entre Jacobo e Marta é de uns 30 cm. Os dois jovens cineastas não ligam de cortar um pedaço da cabeça de um ou mostrar a outra pela metade.

Rabella diz que embora o plano não tivesse um propósito claro, era isso que eles queriam. “Hoje, quase um ano depois, após ter visto e revisto o filme finalizado, na minha opinião, os enquadramentos fazem parte dos aspectos mais satisfatórios. A imobilidade da câmera enriquece a narração”.

E é na escassez de palavras, de imagens solitárias e silenciosas que o enredo se abre para inúmeras considerações, indagações, reflexões.

Vou me deter para um início de conversa sobre o que o filme me inspirou a respeito de intimidade.

No dicionário Houaiss da Língua Portuguesa encontramos que intimidade é qualidade do que é mais íntimo e profundo (…) relação muito próxima… Intimidade diz respeito ao que é mais íntimo e profundo e a definição de íntimo segundo o mesmo dicionário é âmago; alma; que constitui a essência de algo; que existe no âmago de alguém…

Intimidade foi tema de investigação do 50º Congresso da IPA- International Psychoanalytical Association (Associação Psicanalítica Internacional), realizado em 2017 na Argentina.

Um termo aparentemente banal, presente de alguma forma em qualquer atividade e relacionamento humano que, no entanto, alcança alguma especificidade em psicanálise.

Para Meltzer (1994) a vida humana transcorre em basicamente três tipos de relações:

As ocasionais.

As contratuais.

E as íntimas.

Nas duas primeiras, isto é, nas relações ocasionais e contratuais funcionamos em um modo operativo, adaptativo, mecânico.

Nestas relações desenvolvemos atividades treinadas e repetidas de um modo automático.

Nas relações íntimas a situação é diferente.

São relações em que existem experiências emocionais que poderão levar à expansão da mente, ao crescimento mental.

São nas relações íntimas com familiares (avós, pais, irmãos, primos, tios) e amigos, filhos, cônjuges, amantes que apreendemos e aprendemos o que conhecemos de nós mesmos e nossa forma pessoal de nos relacionarmos com os outros e com o mundo.

Mas vamos ao filme.

Considero que o enredo se desenrola em três momentos.

No Primeiro Momento, vemos a rotina que impera na vida de Jacobo e Martha.

Eles vivem em Montevidéu.

Todos os dias, quando Jacobo, um homem sexagenário, chega na fábrica de meias que herdou de seus pais, Martha, uma mulher de meia idade, sua funcionária, já está lá esperando em frente a pesados portões de ferro.

Exatamente às sete e meia Jacobo chega. Antes disso, já tomou o seu café num bar escuro e empobrecido ao lado da fábrica.

Entram juntos. Jacobo fecha o portão de ferro, o ambiente é escuro.

Martha entra em um pequeno quarto onde deixa sua bolsa e casaco.

Jacobo liga as máquinas e vai para uma pequena sala, seu escritório.

A persiana está quebrada. Ele tenta consertá-la.

Martha lhe traz um café e antecipando a necessidade de Jacobo lhe pergunta se quer que chame alguém para fazer este serviço.

Pode ser, ele diz.

Na hora de ir embora, Marta checa as bolsas das duas únicas funcionárias se despede: “até amanhã, se Deus quiser”.

As falas entre eles se resumem a um: Bom dia, Com Licença, Perfeitamente, Boa noite.

Nos primeiros 20 minutos do filme ficamos expostos à rotina de Jacobo e Martha em sua máxima potência.

As imagens e barulho das máquinas e os movimentos de Martha e das duas funcionárias no manuseio e empacotamento das meias são retratados várias vezes evidenciam com brilhantismo a rotina repetitiva, mecanizada de Jacobo e Martha.

No entanto, o som de uma música romântica ao fundo, insinuando que é sempre esta mesma que Martha gosta de ouvir, quando está na fábrica, dão indícios que Martha deseja que Jacobo sinta algo mais por ela e Jacobo sabe que Martha sente algo por ele.

*

Quando te conhecia o vento brincava com seu cabelo de menina. Ai que sorte, que sorte!

*

Mas, ali, entre os dois impera um pacto de formalidade.

Reina entre eles uma relação contratual.

Martha e Jocobo funcionam, nesse primeiro momento do filme, em um modo operativo, adaptativo, mecânico.

Teria Marta sofrido decepções, desilusões amorosas? Estaria ela presa em mágoa e ressentimento e só lhe restava viver daí por diante uma relação contratual?

Este primeiro momento do filme retrata de forma primorosa uma Intimidade Desautorizada.

Há um pacto entre Jacobo e Martha de permanente Desautorização da Intimidade.

Entranhados neste pacto, as sensações, como diz Fernando Pessoa:

*

São sonos que ocupam como uma névoa toda a extensão do espírito, que não deixam pensar, que não deixam agir, que não deixam claramente ser….

*

Confesso que quando tentava colocar no papel esses primeiros momentos do filme, o retrato de uma relação repetitiva e asséptica, minha imaginação travava. Não conseguia encontrar palavras, não conseguia engatilhar minhas ideias.

Possivelmente, porque o filme teve essa capacidade de me invadir com o estado mental desértico e empobrecido prevalente entre Jacobo e Martha.

No entanto, entre o barulho das máquinas, aparece um desvio na rotina entediante de Jacobo e Martha.

E a partir daí adentramos em um Segundo Momento do enredo.

Herman o irmão mais novo de Jacobo que mora no Brasil onde tem uma fábrica de meias virá para a cerimônia de matzeiva de sua mãe, o descobrimento do túmulo e inauguração da lápide, ou pedra tumular da sepultura judaica.

Então ficamos sabendo que a mãe de Jacobo morreu há um ano e que seu irmão não veio para o enterro.

Fica subentendido que Herman migrou para o Brasil quando jovem.

É casado, tem duas filhas e quase nunca vinha para Montevidéu visitar a mãe e o irmão.

Para não demonstrar que vive só e que as coisas não vão nada bem, Jacobo, entre meias palavras, pede para Marta agir como se fosse sua esposa enquanto Hermann estiver hospedado em sua casa.

Martha aceita e sugere que precisarão ter algumas fotos deles na casa.

Jacobo parece não entender e Marta explica-lhe que é por causa de Herman.

O que ela não lhe diz, mas fica subentendido, é que as fotos de casais constituem indicação de uma vida cotidiana familiar.

Jacobo concorda, mas rapidamente muda de assunto e pergunta sobre o pedido de compras de um dos clientes.

Martha, reassegurando o pacto de formalidades entre eles, indica-lhe onde está o tal pedido.

Jacobo agradece.

Ao voltar de uma entrega, Jacobo passa em frente a um Bazar em liquidação e fica uns poucos segundos olhando para algo. No plano seguinte, vemos o que Jacobo vê. Dentre as opções disponíveis na vitrine, o que atrai o seu olhar é um determinado porta retrato cuja moldura na cor rosa, diferente dos demais, traz uma imagem idílica de um casal apaixonado. Situação bem diversa da que Jacobo e Marta estava simulando.

Martha vai ao cabeleireiro, se arruma e dá um jeito na casa, escondendo os vestígios da longa e dolorida enfermidade da mãe e de Jacobo.

Uma casa com entulhos, quartos vazios, fria. Um lugar de uma vida cheia de nada.

O ambiente desarrumado revela o quarto de um homem solitário, cujos interesses resumiam-se a olhar catálogos de revistas sobre máquinas industriais e a torcer por seu time do coração, El Tanque Sisley. No quarto, são visíveis as revistas sobre aquele tema, bem como troféus e medalhas que revelam o interesse dele por futebol. Talvez, um dos seus poucos prazeres.

O quarto em que o pretenso “casal” dormiria, a exemplo da sala de estar/jantar, dá-nos a impressão de que, em algum momento, seria desocupado. Teria Jacobo começado a guardar os objetos que foram de sua mãe?

Vemos camas que há muito não são usadas, objetos de uso pessoal como a aparadeira, a almofada terapêutica, o cilindro de oxigênio, colchões em sacos plásticos, além de um espelho recém tirado da parede da penteadeira.

Marta olha para tudo aquilo.

Para sustentar o falseio, os “recém-casados” combinam o local onde foi a lua-de-mel, colocam alianças e tiram uma foto. Antes de clicá-los, o fotógrafo pede para que digam “whisky”. Assim vemos, pela primeira vez, um sorriso no rosto dos dois. Um sorriso simulado, de curtíssima duração, causado apenas pela fonética da palavra.

Será que Jocobo em algum momento de sua vida teve uma relação afetiva e erótica com alguém? Teria ele permanecido preso no triângulo edípico? Trabalhando com o pai na fábrica sem nunca inová-la, sem nunca deixa-la um pouco mais com a sua cara, e apaixonadamente cuidando da mãe? 

Se no Primeiro Momento do filme nos deparamos com o pacto de desautorização da intimidade, neste Segundo Momento nos é retratado de forma primorosa o Suborno da Intimidade.

Subornar vem de sub + ornar. Ornar deriva do latim ornare – “fornecer, equipar, armar, aparelhar, preparar, embelezar, ornar, distinguir, honrar”, segundo o Houaiss. Trata-se de um verbo um tanto culto, mas ainda vivo como sinônimo menos frequente de enfeitar, adornar, ornamentar, ataviar, emperiquitar, empetecar.

Subornar é, na origem, pôr uma pulseira de ouro no subornado, um brinco de brilhante em sua orelha, uma gravata italiana em seu pescoço. Até aí faz sentido, mas por que o “sub”?

Justamente pelo caráter sorrateiro, dissimulado da operação. O prefixo “sub” tem o mesmo sentido que exibe no adjetivo “sub-reptício”: denuncia ação furtiva.

Herman chega.

Os dois irmãos se cumprimentam.

Há formalidade e tensão entre eles. 

Marta os espera no apartamento com tudo muito bem planejado.

Herman é um homem extrovertido. As meias que fabrica são coloridas e modernas.

Quando vão assistir uma partida de futebol Herman estimula o irmão a modernizar a fábrica. 

Jacobo desconversa e passa a xingar o bandeirinha.

De forma enviesada assistimos a revolta de Jacobo pela ausência do irmão.

Mas, Marta vai aos poucos se animando com Herman.

Os três vão passar o final de semana em Piriápolis. Uma cidade de praia. Herman os presenteou.

O Hotel é antigo. Está frio. Poucos hóspedes. Corredores e praia vazios.

Marta no quarto do casal tenta uma conversa com Jacobo sobre sua infância.

Jacobo desconversa.

Ela não insiste.

Aos poucos Herman e Marta se aproximam.

Adentramos, então o Terceiro Momento do filme: uma Intimidade em Estado Nascente.

Na praia, só os dois, ela lhe conta que desde criança brincava de falar palavras e frases de trás para frente. Herman fala uma palavra e outras, uma frase e outras e Martha graciosamente as inverte.

Se encontram na piscina de água quente. Lá, Marta perde a aliança que é recuperada por um casal jovem em lua de mel. 

Herman lhe conta um pouco mais de sua vida. Diz que quase não fica em casa, que trabalha muito, que viaja muito.

Fala que é coisa que vem do seu pai que sempre enfatizava o trabalhar.

No restaurante do hotel Herman canta no karaokê e aí sabemos por inteiro a música que Marta ouvia incansavelmente, todos os dias na fábrica:

Hoje colhi uma flor e chovia e chovia

Esperando o meu amor e chovia e chovia

Pessoas apressadas passavam e corriam

E a cidade ficou deserta porque chovia

E fiquei pensando em tantas coisas bonitas

Como aquele dia na praia que conheci você

O vento brincava com o seu cabelo de menina

Ai que sorte, que sorte

Seu olhar no meu

Quando o meu amor chegar vou dizer-lhe muitas coisas

Ou talvez, simplesmente

Vou dar-lhe de presente uma rosa

Porque eu colhi uma flor

Esperando o meu amor

Que me alegre seu canto

Que me alegre sua risada

Que se alegre o silêncio

Seu olhar no meu

Quando meu amor chegar

Vou dizer-lhe muitas coisas

Ou vou simplesmente lhe dar uma rosa

Seguramente o melhor é uma rosa

Vamos conversando

Vamos nos beijando pelas ruas desertas

Sim, o melhor é a rosa

Sim!

 

Marta não tira os olhos de Herman enquanto ele canta.

Jacobo olha de soslaio para o embevecimento de Marta.

No meio da noite Marta vai ao quarto de Herman e senta-se ao lado dele na cama.

Enquanto isso Jacobo está jogando no cassino do Hotel todo o dinheiro que Herman lhe ofertou se desculpando por estar tão ausente tantos anos, por ter deixado o irmão sozinho com os problemas da fábrica e cuidando da mãe doente.

Jacobo esperava perder todo o dinheiro, apostou todas as fichas em um só número, mas duplicou a quantia que Herman lhe ofertara.

Na manhã seguinte encontramos os três no café da manhã.

Quando estão a sós, Martha entrega um bilhete para Herman.

Deverá ser lido enquanto estivesse no avião.

Naquela noite, já em casa, Jacobo dá à Martha parte do dinheiro que ganhou no Cassino. O dinheiro foi cuidadosamente embrulhado em papel de presente.

Marta quer voltar para casa de ônibus, mas Jacobo chama um táxi.

No caminho para sua casa o semblante de Marta irradia uma profunda tristeza.

No dia seguinte ela não está na fábrica esperando por Jacobo.

Ele entra só e cumpre todo o ritual: liga as máquinas e vai para o seu cubículo. A persiana está desmantelada e sem Marta para lhe trazer o café.

Uma funcionária pergunta se pode ligar o rádio. Jacobo diz que sim e depois muda de ideia.

– Quando Marta chegar, pergunte a ela.

Jacobo de seu cubículo ouvia a canção que Marta tanto gostava?

O acordo monossilábico entre os dois personagens, o bilhete não-lido que Marta entrega a Herman antes de sua partida, a ausência de Marta são pequenos movimentos de repetição e diferença, de reiteração e desvio que fazem com que tudo permaneça no mesmo lugar, mas talvez não mais da mesma forma.

O que acontecerá dali por diante não saberemos mas, de qualquer forma, a entrada de Herman na história de Jacobo e Marta promoveu uma rachadura no pacto contratual que havia entre os dois.

*

Retornando à especificidade da intimidade na psicanálise podemos então relacionar os três momentos do filme ao que pode ocorrer na relação paciente analista.

1. Um pacto inconsciente contratual.

O setting pode estar bem instituído com alta frequência e divã, mas prevalece um pacto inconsciente de desautorização da intimidade que inibe a circulação de afetos.

2. Pode ocorrer um Pacto Inconsciente de Suborno da Intimidade. A análise transcorrendo através de belas interpretações fundamentadas em teorias.

3. O desafio da psicanálise é transformar a relação analítica, inicialmente contratual, numa relação íntima que possa derivar em uma expansão da mente e crescimento mental do par analítico.

Uma via de mão dupla entre o processo interior de um e sua capacidade de extravasar e mobilizar o processo interior do outro ativando assim o desejo de conhecimento sobre si, sobre o outro, sobre a relação, sobre a forma pessoal de ser e estar no mundo.

Essas três modalidades de relação podem ocorrer em uma mesma sessão. Podem se alternar durante o processo de uma análise.

Por analogia, podemos pensar também o analista que a modo de Herman entra em cena como um terceiro na vida do paciente promovendo rachaduras em seu sistema defensivo e por conseguinte em suas relações.                                          

Confesso que tomada de otimismo ficava esperando que em algum momento o casamento dissimulado entre Jacobo e Martha pudesse acender uma fagulha de erotismo entre ambos e que finalmente pudessem se autorizar o início de uma relação íntima.

Mas é óbvio que não.

Onde não há conflito deflagrado não haverá renegação estridente.  

*

Encontrei na revista Exame 55 anos um texto publicado por Denise Mota, em 06/01/2012, sobre a parceria de Juan Pablo e Pablo. 

Conheceram-se na Universidade Católica do Uruguai e desde então trabalham juntos. Inicialmente fizeram vários curtas e estrearam o seu primeiro longa-metragem intitulado 25 Watts, em 2001, com grande aceitação entre o público e a crítica.

Com o produtor e amigo Fernando Epstein fundaram a produtora Control Z, no Uruguai.

Em 06 de julho de 2006, Juan Pablo Rebella foi encontrado morto em seu apartamento. Segundo a imprensa local, ele teria cometido suicídio durante a madrugada. Ele estava preparando o roteiro para o que seria seu terceiro filme com Pablo Stoll.

Stoll demorou dois anos para se recuperar. Hiroshima: Um Musical Silencioso, em cartaz nos cinemas, é sua primeira produção solo. Em depoimento à jornalista Denise Mota, Stoll falou sobre o labirinto em que esteve mergulhado. E do qual saiu com um filme nas mãos.

A inocente ideia de que se pode esticar a adolescência para sempre morreu junto com Juan naquela noite de julho de 2006. Depois de uns minutos no inferno, você perde a inocência. Lembro que a primeira coisa que pensei foi: “Nada vai ser como antes”. E estava certo. Agora sou mais chato e mais sério. Não sou tão radical e entendo mais as atitudes dos outros, ainda que continue com vontade de dar uns tapas em algumas pessoas.

“Nunca vou deixar de ser ‘um dos caras de Whisky’, ou seja, parte de um duo de diretores que fez dois filmes bem-sucedidos, 25 Watts e Whisky. O último gerou coisas maravilhosas, mas trouxe um peso com o qual não foi fácil lidar: o de não saber se conseguiria finalizar outro longa. No dia de estreia de Hiroshima, me senti mais leve, com vontade de realizar outras produções e encarar novos projetos”. 

“Acho que, de todos os filmes que poderia ter feito, esse é o que melhor representa esse momento da minha vida, que é o de busca. Hiroshima é um passeio interior por uma terra arrasada, uma viagem sem destino, mas que deixa claro que há coisas das quais não se pode escapar. É uma comédia estranha, mas uma comédia do princípio ao fim. Em Hiroshima estão expostas coisas que havia pensado com Juan, como o propósito de fazer um filme sobre um personagem extraviado. Também estão todas as minhas influências: as histórias em quadrinhos, o rock, o cinema. E Juan, claro, como influência permanente nos últimos dez anos da minha vida”. 

“Carrego Juan comigo o tempo todo, às vezes até demais. Não é algo que dependa da minha vontade. Ele está aí, e minha homenagem a ele é me levantar e respirar todos os dias. Penso nele quando vejo coisas de que ele gostaria. Há coisas que queria ter visto com ele: as séries Little Britain e Peep Show, os filmes dos nossos amigos, os meus filmes. Sinto saudades de nossas conversas obstinadas, das ligações telefônicas às 2 da manhã só para terminarmos discutindo se Daniel Rey (produtor musical da banda de punk rock norte-americana Ramones) merecia mais crédito que Johnny Ramone por ter escrito as letras de algumas canções”. 

“Juan era meu amigo, mas sempre fomos diferentes e quisemos coisas diferentes. Ele decidiu não jogar mais. Eu não. Eu quero continuar jogando, ainda que as regras do jogo mudem o tempo todo”. 

 

Referência

Meltzer, D. (1994). Sincerity: a study in the atmosphere of the human relations. In A. Hahn (Ed.), Sincerity and other works: Collected Papers of Donald Meltzer. Londres: Karnac. (Trabalho original publicado em 1971)    

 

Vera Lamanno-Adamo é membro efetivo e analista didata da SBPSP e da SBPCamp.

Este trabalho foi apresentado em comentário ao filme Whisky apresentado no Cinema e Psicanálise na SBPCamp em junho de 2022.

Imagem: Poster do filme Whisky (Wikipedia)

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.    



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