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O psicanalista e suas formas de presença

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De tempos em tempos, a Psicanálise é convocada a posicionar-se frente a críticas vindas de outros campos do saber ligados ao sofrimento humano no que diz respeito à sua atualidade clínica. Muitas dessas críticas atestam um desconhecimento sobre o movimento psicanalítico e, principalmente, sobre os desenvolvimentos no sentido de responder aos desafios da clínica contemporânea.

Nas últimas décadas, os psicanalistas vêm se debruçando sobre o tema do enquadre (Winnicott, Bleger), convocados pela clínica a inventar novas formas de presença que favoreçam o trabalho junto a pacientes ou situações clínicas nos limites da analisabilidade.

André Green é um psicanalista que nos ajuda a construir metapsicologicamente a necessidade dessas novas possibilidades de presença. Se o trabalho do aparelho psíquico é o da representação, as condições da análise devem ser tais que favoreçam esse trabalho (e não serão as mesmas em diferentes situações).

Em Freud, a clínica e a pesquisa nunca estiveram dissociadas, tendo a primeira sempre provocado investigações que o fizeram reformular a teoria. O lugar do analista nessa linhagem freudiana não poderia ser o de mero reprodutor de teorias bem acabadas, mas, possuidor de um repertório herdado de seus mestres, participar do espírito do seu tempo buscando responder a perguntas pelas quais se deixará tocar. Isso implica uma apropriação crítica e criativa da herança recebida, retrabalho constante em uma psicanálise vitalizada, como pode ser visto mesmo nos movimentos internos à própria obra freudiana.

O trabalho com as neuroses demonstra que a atitude abstinente e mais silenciosa do analista e o uso do divã limitando o polo motor, tal qual o modelo do sonho, favorecem a associação e o processo de simbolização. Diante da angústia despertada na situação analítica, a força pulsional investe as representações que vão, através da cadeia associativa, encontrar vias secundárias de satisfação. O paciente fala, sonha, produz sintomas e o analista se dispõe a um estado de atenção flutuante que o permite acompanhar e atuar nas trilhas que as palavras do paciente puderam deixar. Essa aposta, no caso do funcionamento neurótico, é geralmente bem-sucedida, pois nesses casos podemos contar com as condições para o processo representacional que se encontram construídas e mais ou menos bem preservadas.

Mas nem sempre é assim. Há situações clínicas, ou momentos na análise, em que essas condições de enquadre estabelecidas para favorecer a representação, ao contrário, as dificulta. O excesso de excitação pulsional reavivado na situação transferencial interrompe as cadeias de ligação. Diante de angústias que oscilam entre abandono e intrusão, o silêncio do analista pode ser sentido pelo paciente como mortífero. As falhas do trabalho da representação tais como reveladas na análise denunciam as marcas das condições constitutivas de origem junto ao objeto (invasão e abandono) o que impõe ao analista um manejo diferente para restaurar em certa medida a via associativa. Nessas condições menos favoráveis, o trabalho psíquico do analista é chamado a comparecer, sua própria elaboração imaginativa ganha lugar e o analista buscará encontrar a justa distância que o permita se manter vivo sem se tornar invasivo. Como intervir respeitando essa justa distância? O que faz o trabalho de simbolização falhar em certas condições?

Foi diante destas dificuldades impostas ao trabalho analítico que Green propôs seu projeto para uma psicanálise contemporânea, um projeto coletivo de investigação das condições de representação no enquadre analítico, tomando como matriz clinica as situações nos limites da analisabilidade. O projeto é coletivo, e estamos todos convidados a dele participar.

Algumas das respostas pessoais de André Green a essas perguntas serão trabalhadas no curso “André Green e a Psicanálise Contemporânea”, oferecido pela SBPSP.

 

Berta Hoffmann Azevedo é membro filiado ao Instituto de Psicanalise Durval Marcondes da SBPSP, mestre em Psicologia Clínica pela PUCSP, docente do curso “André Green e a Psicanálise Contemporânea” pela SBPSP e autora do Livro Crise Pseudoepiléptica, coleção Clínica Psicanalítica (Ed. Casa do Psicólogo).

bertaazevedo@hotmail.com



Comentários

2 replies on “O psicanalista e suas formas de presença”

Francisca Carvalho Silva disse:

Gostaria de fazer o curso “André Green e a psicanálise contemporânea”.

ps disse:

Excelente texto. Parabéns!

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