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Desamparo e Dor

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*Anna Veronica Mautner

Não ser autor da sua própria vida nem do seu próximo momento é angustiante. A dor de depender da visão de mundo do outro para resolver desde miudezas até grandes decisões eu diria que é insuportável.

Além de fome, além de frio o campo de concentração ou holocausto anexava esta angustia. Comerei o que me derem, descansarei no espaço que me for dado e eu não tenho com que cuidar de mim.

Num campo de concentração as pessoas estão à mercê de outros que no caso são inimigos: não gostam da gente.

Estes inimigos não querem nem se dar ao trabalho de matar ou aleijar. É uma relação muito estranha.

No holocausto o inimigo foi dono da minha vida e não apenas da minha morte.

Se todos morrêssemos, os guardas e policiais ficariam todos desempregados. O carrasco depende da existência da vítima para exercício de sua função. É uma estranha construção esta de ódio e dependência.

Sobre o Dia da Catástrofe:

No dia 11 de abril, judeus do mundo inteiro renderam tributo a memória das vítimas e dos mártires do Holocausto durante o Yom Hashoá (Dia da Catástrofe).  Seis milhões de judeus, incluindo familiares de Freud, e muitas outras vítimas foram exterminadas pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, no episódio mais sombrio da história contemporânea. Anna Veronica Mautner, sobrevivente do Holocausto, chegou ao Brasil no dia 23 de agosto de 1939, uma semana antes do início da guerra em 1º de setembro de 1939. Seu texto para o blog da SBPSP fala da dor e da angustia dessa terrível experiência de vida.

 

*Anna Verônica Mautner é psicanalista da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e autora de “Cotidiano nas Entrelinhas” (Editora Ágora).



Comentários

One reply on “Desamparo e Dor”

Maria Conceição Silva Bragança disse:

Prezada dra. Ana Verônica, gostei da sua reflexão e, se me permite, gostaria de estendê-la para os dias atuais em nosso país, à luz da psicologia social: vivemos atualmente em um regime de exceção, as classes menos favorecidas são espoliadas de todos os seus direitos de cidadania, sendo aleijadas de toda proteção, sendo torturadas diariamente pela morte dos seus sonhos mais simples. Estão à mercê das elites que insistimos em eleger e apoiar. Esta alienação não é estranha, pois é fundamentada na percepção distorcida infantil (e, portanto, inconsciente) de que ter é ser. Se não nos libertamos desse desejo-ambição, a pulsão de morte sempre irá se sobrepor ao amor e à compaixão.

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