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Da Medicina à Psiquiatria e desta à Psicanálise

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Entrei, em 1959, na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) com a declarada intenção de ser médico. Durante o curso médico fui percebendo a psiquiatria como especialidade médica, que se ocupava dos distúrbios mentais em suas mais variadas formas e também se ocupando do comportamento das pessoas acometidas.

Ao final do curso médico escolhi fazer residência em psiquiatria, essencialmente uma especialidade médica, tais como clínica médica, que apresentava uma parte desenvolvida em ambiente hospitalar, para as doenças mais graves e uma parte ambulatorial para os comprometimentos mais leves. No primeiro ano da residência psiquiátrica fiz cursos que se aproximavam da psiquiatria, como especialidades que colaboravam: clínica médica, neurologia, endocrinologia e tantas outras. Cito-as para dar ideia do que me movia nesta residência médica.

A escolha de psiquiatria como campo de trabalho permanece até hoje como um grande mistério. A escolha poderia ter sido pediatria como minha especialidade, pois fui convidado para lá trabalhar, por um assistente, mas optei por psiquiatria. A escolha dependeu de circunstâncias de momento; por exemplo ter trabalhado ainda como estudante em plantões de hospital psiquiátrico e outras circunstâncias, onde aprendi a prática psiquiátrica de momento. Por esse caminho fui me adaptando à prática psiquiátrica.

Ainda estando no segundo ano da residência médica psiquiátrica fui contratado como médico assistente do Departamento de psiquiatria da FMUSP. Até aqui nada sabia de psicanálise e da possibilidade de formação em seu Instituto.

Resultou do trabalho no Hospital de Psiquiatria da FMUSP um experimento desenvolvido como minha tese de doutoramento intitulada “COMUNIDADE TERAPÊUTICA” – Aspectos da Implantação de Atendimento Comunitário, defendida em 1972.

No Instituto da SBPSP onde fui integrante de uma turma de 10, recebemos uma parte grupal fornecida pelo próprio curso, com aulas teóricas sobre Freud, M. Klein e Bion, ofertadas pelos   professores do Instituto; uma parte clínica, com seminários clínicos e duas outras atividades centrais e fundamentais a saber Análise pessoal didática feita com um analista didata de nossa Sociedade obrigatoriamente, no mínimo por cinco anos e com frequência de 4 sessões no mínimo por semana. E a segunda atividade individual, feita obrigatoriamente com analistas didatas da SBPSP, constituída por duas supervisões, com analisandos que compareciam ao consultório e análises de quatro ou cinco sessões semanais, por um período mínimo de 80 semanas. Destas duas supervisões resultaram dois relatórios de supervisão, necessitados de aprovação e a seguir de apresentação na SBPSP.

Este núcleo formativo transmitia todas as dimensões que já assinalei, além de como grupo de 10 alunos, participar de seminários clínicos psicanalíticos. Na ocasião em que frequentei o Instituto não havia a divisão entre seminários obrigatórios e eletivos, como há hoje. Hoje há oferta de seminários variados com turmas e temas muito diversos, como são oferecidos aos membros filiados.

Não será demais, penso eu, salientar que este conjunto extenso e intenso, forma e é formado pelo grupo que está em atividade na SBPSP, dando-nos uma base comum de informação e formação que estou denominando “formação por dentro”

No que chamo “formação por dentro” interessei-me, inicialmente, pela teoria freudiana, que nos foi oferecida no Instituto. Tornei-me um analista freudiano, utilizando-me de seus pilares, para desempenhar a minha clínica psicanalítica. Após alguns anos, a teoria freudiana se funde e ganha influência das ideias de M. Klein e isto é incorporado para meu uso no trabalho clínico.

Finalmente, apareceu a influência de W. R. Bion com sua extensa produção teórica, influenciando muitíssimo o meu pensar psicanalítico. Meu interesse é atraído pelo que chamo experiencia emocional e que se torna uma ferramenta central do que penso hoje sobre clínica psicanalítica.

Formei um grupo de estudos “As conversas psicanalíticas”, que se reúne mensalmente para uma troca de ideias a partir de estímulo curto, formado, no geral, de uma parte teórica e de um “estímulo clínico” criado por um dos integrantes do grupo. O grupo está se reunindo até o presente, usando a forma “on line”, sofrendo para isso uma reformulação do que usávamos na forma presencial.

Ainda dentro do desenvolvimento das ideias e da clínica, com o passar do tempo, fui me dedicando a usar como ferramenta central, o que se passa entre mim e o analisando colhendo dali os elementos centrais para desenvolvermos novas ideias e emoções no encontro psicanalítico.

Aprendi com os muitos escritos de Bion a respeito da teoria do pensamento, como este apresenta ser uma emoção-pensamento, bastante diferente do que eu tomava como pensamento até então, ligado à racionalidade, dirigindo-me ao pensamento-sonho, em que se aprende a nova-ideia.

Depois de me transformar em membro efetivo e analista didata tenho oferecido cursos eletivos a respeito da obra de Bion por muitos anos.

Fomos todos surpreendidos pelo aparecimento da covid 19. Com isso, todos os cursos que eram presenciais não mais foram permitidos. Decidi deixar de oferecer cursos formativos e supervisões online. Continuei e continuo até hoje análise presencial. Fiz uma hipótese que continua válida, de que a minha forma de trabalho necessita de troca entre dois corpos, onde se aloja a experiência emocional que é essencial para meu trabalho.

Nos últimos anos fui aprimorando o que me interessa no atendimento psicanalítico, representado pelo interesse no que se passa no momento da conversa ou melhor ainda, na formação pelos dois presentes de uma experiência emocional, que pode conter palavras ou não. Um dos componentes essenciais é contido ou está no corpo a corpo da sessão.

Estou bastante interessado nas modificações que cada dupla promove no “online”. Suponho que os componentes da experiência emocional estejam modificados se comparados aos componentes da experiência presencial. Essas diferenças, penso eu, não poderão ser únicas, mas obedecendo o que a dupla procura como um todo. Isto vale para a sala de análise, para supervisão, ou outras atividades psicanalíticas

Cabe a nós psicanalistas, como um todo, irmos descobrindo? pouco a pouco, os elementos de interesse para o trabalho psicanalítico, especialmente para o trabalho que se ocupa de experiência emocional. Creio eu que estamos no início dessas descobertas e modificações, e que muito existe para se descobrir ainda.

Descrevo-me, pois, como um psicanalista formado e criado dentro do que me ofereceu, nestes muitos anos, a SBPSP.

Antonio Carlos Eva é médico, psicanalista, membro efetivo e analista didata da SBPSB.

Aquarela: Rejane Ganzarolli 



Comentários

4 replies on “Da Medicina à Psiquiatria e desta à Psicanálise”

Carlos Alberto Orsini disse:

Antonio Carlos Eva foi meu colega na época chamado ginásio no Roosevel por volta de 1952. Grande figura, depois nunca mais o vi, apenas sei que é excelente psiquiatra.Devemos ter
a mesma idade, estou com 85 anos masa sou engenehiro Poli USP.

Carlos Alberto Orsini

Waldo Hoffmann disse:

Que surpresa
Nao sabia que o Eva pertencia à família Rooseveltiana
Fiz o ginásio e o colegial entrando na FMUSP em 71
Eva e Orsini devem ter sido colegas da minha irmã Helga Hoffmann

rosicler martins rodrigues disse:

Antonio Carlos Eva foi meu namorado por pouco tempo. Eu tenho 85 anos, mas tinha 25 na época. Me lembro bem dele, achei um pouco arrogante. Deveria ser mesmo, pois já sabia muito mais do que eu. O meu Roosevelt era o do Parque Dom Pedro.

Luís Fernando de Nóbrega disse:

Deixo aqui o meu pesar pelo falecimento desse grande colega no dia de hoje, 16/01/2024.
O meu agradecimento pela convivência de anos neste grupo de “Conversas Psicanaliticas”.

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