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SBPSP – 70 anos! Tempo de uma história

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Tempo de se fazer uma História. História de vários tempos: de semear, de cuidar; tempos de enfrentar as inseguranças, as angústias; tempos de crescimento e de conflitos, de preocupação, de estagnação, de esperanças, de expansão.

70 anos atrás, um grupo de pioneiros ousou, com coragem e determinação, criar uma Sociedade de Psicanálise em São Paulo, nos moldes da Associação Internacional de Psicanálise (IPA) fundada por Freud em 1910, enfrentando os demônios internos e externos. A mesma coragem e determinação que alguém necessita para iniciar uma viagem ao desconhecido em busca de sua verdade pessoal, de sua singularidade, em um processo de análise.  

Como diz Elias Canetti em ‘Massa e Poder’: “não há nada que o homem mais tema do que o contato com o desconhecido… Por toda a parte, o homem evita o contato com o que lhe é estranho… O pavor ante o contato inesperado, pode intensificar-se até o pânico”.

A metapsicologia freudiana impactou o homem, ameaçou sua onipotência como ser racional, por isso Freud a caracterizou como “a bruxa”.

Apesar das resistências a aceitar que ‘somos agidos’ internamento por forças instintivas desconhecidas, a psicanálise continua sendo um recurso que aproxima o ser humano dele mesmo e do desconhecido, há mais de 100 anos. Nesse percurso, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo existe há 70 anos, formando novos analistas e atualmente conta com mais de 400 psicanalistas e outros tantos em formação.

Dou-me contar que, desses setenta anos, fui e continuo participante de 43 deles.

Ao recordar os inícios de minha formação, desfilam em minha mente os modelos que introjetei de analistas “formadores”, aqueles em quem eu podia perceber um grande amor pela psicanálise, confiança no processo analítico e integridade pessoal, o ‘tripé’ de uma “formação”. 

Passam nessa passarela as figuras das ‘damas’ da psicanálise paulista com quem convivi: Lygia Alcântara do Amaral, minha analista por muitos anos e depois a amiga com quem conversava sobre filhos e netos. Lygia  tinha grande interesse pela infância e coordenava um dos cursos de ‘Observação de bebês na família’. Virginia Leone Bicudo, supervisora e amiga de longas conversas especialmente nas ‘caronas’ que eu lhe oferecia. Conversávamos muito sobre a vida, as lutas que teve que enfrentar, o envelhecimento e sua paixão pela psicanálise.

Muitas mudanças ocorreram na formação, ainda que mantendo sua base no tripé: análise pessoal, supervisões e conhecimentos de teorias.

Acompanhei as mudanças no processo seletivo, o aumento dos cursos teóricos, e a maior participação na vida institucional dos colegas em formação. A análise pessoal continua com a mesma frequência de 4 sessões semanais por 5 anos no mínimo, pois a análise do analista é essencial para ele/ela chegar às profundezas de seu ser.

Nossa formação é extremamente rica, assim como a formação continuada e os grupos de estudos (mais de 20) para os que completaram a parte institucional da formação.

As reuniões científicas enriquecem a formação e permitem a troca de ideias e experiências entre os analistas de diferentes correntes teóricas.

Nossa DAC (Diretoria de Atendimento à Comunidade) presta vários serviços a diferentes instituições e pessoas necessitadas do influxo psicanalítico.

Nossa última aquisição recente é a formação integrada, em que o membro em formação pode escolher um tipo de formação que o habilita a ser analista de crianças, adolescentes e adultos e principalmente que permite aos analistas de adultos se beneficiarem das aquisições teóricas e clínicas advindas das análises com crianças e adolescentes, e da observação de bebês. Todos os adultos têm dentro de si o ‘infantil’, esteja ele representado ou não. Esse infantil, que nos acompanha por toda a vida, diz respeito não somente aos aspectos pulsionais, mas também ao sentimento de desamparo, e a acontecimentos possivelmente traumáticos a que todos estamos sujeitos.

Pensando em meu percurso na Sociedade, devo a Luiz Carlos Junqueira Filho (presidente 1996-2000) a oportunidade de estar na coordenação do Setor de Psicanálise de Crianças e Adolescentes e poder redefinir o programa de formação, tornando-o mais integrado à formação geral. Estar nesse lugar, permitiu-me fazer parte do COCAP (Committee on Child and Adolescent Psychoanalysis) da IPA (International Psychoanalytical Association) desde sua criação em 1997.

Depois, com Marcio Giovannetti na presidência, a possibilidade de instituir, como Diretora do Instituto, a formação continuada, possível pelo trabalho conjunto e colaborativo da Comissão de Ensino de então, e dos membros da Diretoria do Instituto. Ainda que eu observe que alguns aspectos deveriam ser reformulados, tem sido um ganho em relação ao instituído previamente. Vinte anos de experiência parecem ser suficientes para se perceber a necessidade de algumas mudanças.

Avalio que meu período na presidência, 2012 a 2014, contribuiu para expansão da DAC, no sentido de prestar atendimento a várias e diferentes ‘comunidades’ necessitadas de atendimento. O CINAPSIA (Curso Introdutório ao Atendimento da Infância e adolescência, sonho sonhado por Izelinda Barros e por mim há anos e realizado graças à colaboração de uma equipe bastante engajada, coordenada por Regina Elizabeth Lordello Coimbra.

Ao escrever este texto, dou-me conta que guardo comigo os valores desses pioneiros tais como: respeito aos analisandos, amor pela psicanálise e por nossa Sociedade. Amor pelo conhecimento e pelas trocas entre colegas, contando sempre com a possibilidade de ampliar a escuta psicanalítica.

Apesar dos temores em relação às mudanças, vamos seguindo e crescendo, enfrentando o desconhecido… e buscando sempre novos caminhos.

Nilde J. Parada Franch é ex-Chair do Committee on Child and Adolescent Psychoanalysis da IPA. Membro efetivo e analista didata da SBPSP. Editora do Livro Anual de Psicanalise. Foi diretora do Instituto (2000 a 2004) e presidente da SBPSP (2012 a 2016).

 

Imagem: La Sorcière (Joan Miró, 1969) 



Comentários

3 replies on “SBPSP – 70 anos! Tempo de uma história”

Sandra Gonçalves disse:

Parabéns! Você fez a diferença na SBPSP e na vida daqueles que tiveram e têm o privilégio de conviver com você no seio da sociedade.

Beth Coimbra disse:

Parabéns Nilde querida, o vigor presente em suas palavras é contagiante. Sua trajetória é linda, mostra tanta seriedade e respeito pelas pessoas e pela psicanálise.
Muito obrigada por tudo que aprendi com você.
Um grande abraço

Miriam Altman disse:

Querida Nilde
Ao ler seu texto vejo sua capacidade de se renovar, acompanhar os tempos e as mudanças sem perder o essencial da psicanálise.
Sua contribuição à Sociedade inestimável, estimulando as pessoas que tiveram o privilégio, como eu, de terem relações próximas com você!
Obrigada

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