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Psicanálise e psicoterapia: qual a diferença?

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Analista didata e secretária geral da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo, a psicóloga e psicanalista Marta Foster concedeu entrevista à editoria VivaBem, do portal UOL, acerca das especificidades da Psicanálise e das características que a difere da Psicologia e da Psicoterapia.

Leia abaixo na íntegra a entrevista, e clique aqui para ler a matéria “Psicoterapia, psicanálise e psiquiatria: qual a diferença entre cada uma?”, publicada pelo UOL.

1) Qual a diferença entre a psicanálise e psicoterapia?

O nome Psicanálise foi dado por Sigmund Freud, consideramos que ele é “o pai da Psicanálise”. Envolve um método, técnica e teorias que visam possibilitar desenvolvimento mental. Para que haja desenvolvimento mental, precisamos nos aproximar de estruturas psíquicas, funcionamentos mentais que necessitam ser percebidas pelo próprio pacientepois sem percepção não há desenvolvimento possível. Entendemos que o conhecimento de si mesmo é o agente libertador de áreas primitivas que atuam no nosso psiquismo sem que delas tenhamos conhecimento. Faz parte da psicanálise a teoria do Inconsciente, ou seja, que nossa consciência tem acesso limitado ao que somos e ao que fazemos. Dentro da metodologia, que se baseia na relação entre analista e paciente, desenvolve-se um campo de observação que torna possível a investigação de fenômenos mentais, que ao serem percebidos, vivenciados em sala de análise, cria a possibilidade de que o paciente venha ter o que de fato interessa: uma melhor qualidade de vida, com toda a complexidade que envolve esse termo. 

A Psicoterapia também tem suas teorias e técnicas, e seus resultados. Na minha experiência, o que me fez sair da Psicoterapia e buscar a Psicanálise, foi uma experiência muito marcante com o paciente. Depois de quatro anos de trabalho, este paciente disse-me que estava muito satisfeito consigo mesmo, mas o que eu observei é que na realidade, o “mar estava calmo” e por isso ele estava navegando com tranquilidade, mas eu tinha uma sensação, pela experiência com ele, que se o “mar ficasse bravo” ele não teria ferramentas para continuar navegando. Essa experiência foi tão determinante na minha vida, que me fez começar meus estudos tudo de novo, depois de oito anos já trabalhando como terapeuta. Era outro resultado que queria para os pacientes, queria vê-los conseguir navegar com qualidade em “mar bravo”, pois sinto que a vida é assim, mais mar bravo do que calmaria. Mudei de rumo, com todo o barulho que isso significava, pois sabia que teria pela frente um estudo criterioso, uma formação onerosa, no mínimo 10 anos e passar o resto da vida estudando, e é isto que aconteceu, hoje aos 66 anos, continuo estudando, por perceber que a complexidade da mente humana tem muito a ser descoberta. 

O que isso quer dizer é que na Psicoterapia, não conseguimos atingir áreas primitivas do mundo mental do paciente, que de fato teria condições de tirá-los de sequestros que ele próprio faz em relação a si mesmo. Na análise, temos que convidar o paciente a descer conosco nos calabouços, para juntos libertá-lo. Como costumo dizer, a grande vantagem, é que em algum lugar dele mesmo, ele sabe o caminho e o analista o ajudará com suas técnicas, teorias e principalmente método, a chegar até lá. 

2) Como o paciente pode escolher entre um e outro?

Acredito que é mais fácil o paciente buscar inicialmente uma psicoterapia do que uma psicanálise. Como fazemos na medicina, começamos com um antiflamatório, se não funciona, buscamos um antibiótico. Porque a necessidade exige! Então, é a demanda do paciente, o que ele quer para si, que será o determinante  para sua escolha. A Psicanálise exige mergulhos para que o paciente conheça o que tem dentro de si, na Psicoterapia podemos ficar com a superfície e tirarmos algum proveito dela. 

3) Todo psicanalista é psicólogo? Caso negativo, qual a diferença entre um psicanalista psicólogo e outro não psicólogo?

A formação que eu considero que forme de fato um Psicanalista, exige que ele frequente um Instituto específico para essa formação, que ele se submeta a própria análise pessoal, no mínimo durante cinco anos, quatro vezes por semana, que realize supervisões semanais com um analista mais experiente e que frequente seminários teóricos de Freud e de outros autores da Psicanálise, no mínimo cinco anos, para desenvolver o que chamamos de “Escuta Psicanalítica”, e continuar estudando o resto de sua vida. Digo aos meus alunos, que se o analista não tiver o prazer de estudar e o prazer de investigar, busque outra profissão, porque é isso que fará o resto de sua vida, quando se decidir por este ofício. 

O Psicólogo é um profissional que faz uma faculdade de psicologia e ao sair dela, obtém a condição de trabalhar com psicoterapia

4) Dentro da psicologia existem várias abordagens. Na psicanálise é a mesma coisa? Se sim, quais são essas abordagens?

Na faculdade de Psicologia o estudante terá contato com várias propostas de trabalho dentro do vérticeclínico, então poderá estudar Reich, Psicodrama, Psicoterapia Breve e também, estudará PsicologiaEscolar, Psicologia Empresarial. Terá conhecimento de vários autores, que são os que propõe estas formas de trabalho. Terá contato com as teorias de Freud, mas isso não possibilita que ele se intitule psicanalista

Na Psicanálise, o que nos une é o conceito de inconsciente e a base será sempre Freud, os outros autores partiram dessa base e desenvolveram suas escutas a partir de suas personalidades e genialidades, em relação aquilo que escutaram, então surgiram muitos autores valiosos, mas os meus preferidos são Freud, Klein e Wilfred Bion. 

5) No caso de haver várias abordagens na psicanálise, como o paciente pode saber qual dessas é melhor para ele?

Acredito que quando o paciente recebe uma indicação, ele irá fazer uma entrevista com o profissional e caberá a ele verificar se a proposta de trabalho que aquele profissional lhe oferece, está atendendo aos seus interesses. Costumo dizer que análise é investimento, não é despesa, então, como todo o investimento, necessita dar dividendos, e isto é o paciente que tem que estar atento, caso isto não ocorra, seria interessante, buscar outro investimento/analista.

6) Quais os benefícios da psicanálise para quem busca esse tipo de terapia?

Como coloquei acima: Qualidade de vida!! , mas sou consciente de que somente a própria pessoa vai saber o que isto quer dizer para ela. E pode ter certeza, em minha experiência de mais de 40 anos de trabalho, o paciente sabe!.

7) Ainda existe muito preconceito com a psicoterapia, associando o fazer terapia a um problema ou distúrbio mental. Como conscientizar essas pessoas da importância da psicoterapia/psicanálise?

Preconceito, como diz Freud é ausência de pensamento. Acredito que ninguém convence ninguém a fazer uma Psicanálise, é necessário que a própria pessoa em algum momento, sinta que ela precisa se beneficiar do que o próprio homem criou para ser útil ao outro homem: as profissões.  Essas só existem e se mantem se puderem ser úteis ao outro e nisto, nenhuma profissão difere da outra. Se questões narcísicas impedirem o ser humano de se beneficiar do que ele próprio criou, não terá jeito, ele terá que arcar com a dor do que isto significa. Finalizando, não tenho condições de lhe dizer o que é importante para você, mas tenho condições de compartilhar com você o que foi importante para mim e é você que fará suas próprias escolhas, e isso é fundamental, porque só você é que arcará com as responsabilidades sobre elas. 

Imagem: A Psicanalista, J. Borges



Comentários

4 replies on “Psicanálise e psicoterapia: qual a diferença?”

Jucely disse:

Preconceito como ausência de pensamento, interessante está ideia.

Cláudia Galamba Fernandes disse:

Marta gostei muito da forma como abordou as diferenças e alcances entre a psicoterapia e a psicanálise. Como o preconceito como ausência de pensamento. E a importância das percepções como portal do crescimento mental.
Abs. Claudia Galamba

Petra Calistro Miculis disse:

Parabéns a Marta Fortes pela excelente explanação sobre o assunto, por enriquecer o nosso conhecimento com a sua sabedoria e didática.

Fábio Corrêa disse:

Excelente texto de Marta Foster, abordando o dilema psicoterapia “versus” psicanálise. Texto didático, informativo e preciso, reflexo de uma carreira de vasta experiência, dedicação e amor pelo que faz.

Gratidão.

Fábio Corrêa
https://psicologofabio.com.br/

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