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Pais tóxicos

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Por ocasião do Dia dos Pais, a psicanalista didata da SBPSP Ligia Mattos cedeu uma entrevista à CNN Brasil sobre “pais tóxicos”, respondendo às seguintes questões:

O que é um pai tóxico e como reconhecê-lo?
Quais são suas características?
O que a toxicidade causa nos filhos?
Como lidar com pais tóxicos? 

Leia abaixo a entrevista na íntegra e “clique aqui” para ler a publicação no portal de notícias.  

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Estudos e informações da relação da mãe com os filhos são frequentes, mas quase não se fala da relação do pai com filhos e família.

Com a proximidade da comemoração do Dia dos Pais, o tema proposto foi, o que é um “pai tóxico”?

Assim como o papel da mãe na relação suficientemente boa ou tóxica com seus filhos é tema longamente examinado, pensemos em toxidade de um pai mesmo antes do nascimento do bebê. Esse pai é pessoa com quem a mãe teve ou tem ligação emocional nas inúmeras configurações de casal, sejam separados, divorciados, homoafetivos, mono parentais.

Atualmente, com registros de imagem feitos in útero, observam-se reações do bebê às questões emocionais da mãe e do ambiente. Desde a gestação os primórdios do psiquismo vão se constituindo. Um pai autoritário, agressivo, violento, que maltrata a mãe, determina um tipo de relação do casal e, em consequência, nas emoções da mãe que reage às agressões ou que sofre, mesmo em silêncio, e que podem deixar marcas psíquicas no bebê em formação.

A psicanálise intuía esses fatos há tempos e cada vez mais se confirmam nas pesquisas da neurobiologia sobre as reações no cérebro do feto em condições sejam elas favoráveis ou críticas.

Muitos diagnósticos psiquiátricos de distúrbios do desenvolvimento na criança podem assim ter como origem situações muito precoces, como essas descritas. São marcas que vão se fixando ao longo do tempo. A criança não consegue entender o que acontece nas relações dos pais e dos pais com ela. Pode se tornar ansiosa, agressiva, hiperativa, desatenta, ou ter outras manifestações que levam os pais à consulta pediátrica, psiquiátrica e/ou psicológica.

Mesmo quando o pai desde sempre esteve ausente e que o casal nem mesmo chegou a se constituir, ele também pode ser uma figura tóxica para o psiquismo da mãe que reage ao abandono ou à ausência com mágoa, ressentimento e observações negativas, críticas, a respeito dele que faz aos filhos.

Nos divórcios e separações o pai ausente que mantém relação belicosa com a mãe e não busca o contato com os filhos é figura que os decepciona, sejam crianças ou adolescentes, causando também ressentimento, sofrimento, dor. Pode também ser considerado tóxico um pai que não atende às necessidades de contenção das angústias dos filhos e de suas expectativas de presença, carinho, compreensão.

Há aqueles pais que não suportam a decepção de que seu filho ou filha não corresponda às suas expectativas e fantasias de excelência e passa a criticá-lo (a) de forma cruel, minando a autoconfiança da criança, do (a) adolescente. São pais que, muitas vezes, na infância e adolescência, não tiveram dos pais nem a continência de suas ansiedades nem a compreensão das fragilidades de uma criança ou adolescente em desenvolvimento. Ao se tornarem pais, reproduzem o modelo conhecido, que chamaríamos de cruel.

Precisamos lembrar que, nos dias de hoje, é muito comum os pais darem um celular ou qualquer outra tela até para crianças bem pequenas, de meses, um, dois ou três anos, que isolam a criança no mundo tecnológico e a afastam do contato intersubjetivo fundamental para seu desenvolvimento, enfim, do contato humano.

Como lidar com esse pai e com essas famílias?

Do ponto de vista psicanalítico é indispensável a elaboração das marcas iniciais de sofrimento e das reações que elas determinam na atitude da pessoa em relação aos outros e a si própria, elaboração que se dá no contato interpessoal com o analista.

É importante o trabalho do ponto de vista emocional com a família, ou com o individuo que está sendo chamado de “pai tóxico, porque talvez ele esteja reagindo a marcas antigas de sofrimento fixadas nas relações familiares ao longo de seu desenvolvimento.

 

Imagem: Shutterstock n. 116263561 

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.   



Comentários

One reply on “Pais tóxicos”

Maria Beatriz Zambon Montans disse:

Muito bom seu artigo Lígia! Parabéns! Levanta uma série de questionamentos importantes!

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