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Nos limites da clínica psicanalítica: entrevista com Berta Hoffmann Azevedo

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A psicanalista Berta Hoffmann Azevedo está prestes a lançar seu livro Paixão e loucura nos limites da clínica psicanalítica. O Blog da  SBPSP sentou-se com a colega para uma entrevista.

 

Blog: Você poderia nos contar um pouco sobre seu livro?

BHA: Claro, com prazer. Esse livro nasceu da necessidade clínica, da inquietação frente a situações que me faziam correr atrás de referências que me ajudassem a inventar maneiras de presença favorecedoras de movimento analítico quando algo ia mal nesse sentido. Aquelas situações que conhecemos como limites da analisabilidade, que põem em xeque a dinâmica transferencial no enquadre. Nos últimos anos venho especialmente dedicada a pensar os fenômenos paradoxais que tentam estabilizar o narcisismo a custos altos para o Eu e para seu universo de relações. Venho rastreando inspirações teórico-clinicas sustentadoras do que intuitivamente me via fazendo na sala de análise. E nesse percurso entendi que valia a pena pensar como se relacionam e se discriminam as noções de paixão, loucura, enamoramento apaixonado, relações passionais, paixão secreta da loucura privada, defesas paradoxais e psicose. O livro toma essa tarefa mantendo-se sempre muito próximo da experiência clínica que o faz existir.

Blog: Você escolheu alguns termos fortes para dar título ao seu livro. Usou as palavras “paixão”, “loucura”… E ainda vai lançar o livro em uma sexta-feira de Halloween (risos)! São termos mais típicos da linguagem comum do que da nosografia clássica…

BHA: Adorei essa pergunta. A data não foi pensada originalmente para acontecer na noite de Halloween, mas tal como na clínica, tomemos o acaso para incluir uma dimensão lúdica fértil para figurar o que estamos cercando. De fato, as noções de paixão e loucura não são parte da nosografia clássica em psicanálise. Assim como não é clássico pensar certos fenômenos limites que nem por isso deixam de estar presentes no nosso dia a dia clínico. Desde os anos 1970 os autores pioneiros da chamada Psicanálise Contemporânea foram percebendo que a psicanálise precisaria se debruçar sobre essas situações clínicas nas quais fracassava. Justamente sobre aqueles cenários em que encontrava seus limites de atuação. Só assim poderíamos fazer avançar nosso campo. E cá estamos, tentando levar adiante essa tarefa.

Blog: Um referencial importante seu está na obra de André Green (1927-2012). É sempre curioso compreender como um psicanalista encontra suas balizas teóricas. Como você enxerga isso e como esse autor faz-se presente em seu pensamento?

BHA: Penso que cada grande autor contribuiu para responder certas perguntas clínicas e dependendo do campo em que estamos mergulhados seremos mais bem auxiliados por uns que por outros. Green é um dos autores que me ofereceram ferramentas teórico-clínicas para pensar o que eu estava rastreando. Meu fio condutor teórico principal sempre foi, e ainda é, o Freud. Há inclusive um capítulo no livro que chama “Por que ainda ler Freud?”. Na riqueza complexa da metapsicologia freudiana encontramos grandes perguntas e também ferramentas que nos permitem responder àquelas que nos cabe formular em nossos momentos histórico-social. Até 2010, quando eu defendi meu mestrado, eu sentia que havia um campo de fenômenos clínicos que me inquietavam e diante dos quais eu chegava a impasses. Foi aí que a leitura do Green adquiriu pra mim um sentido especial: ele se fez autor exatamente tomando como matriz clínica os estados limites, o que me permitia avançar clinicamente sem abrir mão do referencial freudiano que me era tão caro. Mas a relação com os escritos do Green só me faz sentido dentro de uma perspectiva de diálogo com outros autores da chamada psicanálise contemporânea com os quais sua obra estava em constante relação. Ou seja, não se presta como nova escola de psicanálise, mas como um esforço coletivo de superação do dogmatismo das escolas. Esse movimento que ele nomeou Psicanálise Contemporânea tem um valor muito significativo na extensão da psicanálise na direção dos sofrimentos narcísicos importantes que alteram significativamente a dinâmica da sessão em transferência, exigindo muitas vezes repensar o enquadre clínico para favorecer trabalho representativo e reestabelecer movimento analítico. Além de Freud e Green, uma pluralidade de autores como Winnicott, McDougall, Aulagnier, Laplanche, Pontalis estão sistematicamente trabalhados no livro. Um tecido de autores que foi se criando para alcançar os impasses intersubjetivos sem abrir mãos do fundamento pulsional. Paixão, loucura e limite podem ser boas pistas pra quem está engajado nessa mesma clínica. É o desejo do livro que agora lançamos! 

Berta Hoffmann Azevedo é membro efetivo e docente da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo. É a atual editora da Revista Brasileira de Psicanálise.

 

Lançamento do livro Paixão e loucura nos limites da clínica psicanalítica (Ed. Blucher, 2025)
Local: Livraria da Vila – Rua Fradique Coutinho, 915, Vila Madalena, São Paulo/SP
Data: 31/10/2025 (sexta-feira)
Horário: 19h 

Imagem: Berta Hoffmann Azevedo (acervo pessoal) 

As opiniões dos textos publicados no Blog da SBPSP são de responsabilidade exclusiva dos autores.  



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